Semana passada no domingo (3), quase metade dos eleitores do Tocantins preferiu não escolher o próximo governador do Estado, nas eleições suplementares realizadas para definir quem será o chefe do Executivo até o final deste ano.
Isso porque, somente as abstenções chegaram a 30,14%, que somadas aos 19,19% de votos brancos e nulos, significaram 443,4 mil pessoas fora do universo dos votos válidos.
A baixa participação da população no pleito pode ser entendida como um sinal para as eleições gerais daqui a quatro meses, na avaliação de analistas políticos.
Mesmo que o caso do Tocantins tenha suas particularidades, por se tratar de uma eleição suplementar, portanto realizada para solucionar o problema da cassação do mandato do ex-governador Marcelo Miranda (MDB) e sua vice, Cláudia Lelis (PV), pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com uma campanha curta, com menos recursos e sete candidatos, é provável que a nível nacional a abstenção continue a tendência de crescimento registrada nas três últimas eleições.
Em 2012, foram 26,5%. Em 2014, subiu para 29% e em 2016, para 32,5% entre brancos, nulos e faltosos, de acordo com o TSE.
CREDIBILIDADE
Para o cientista político e professor da UNB, Antônio Flávio Testa, a falta de credibilidade com os nomes que estão colocados, principalmente para a presidência, tem feito com que o eleitor não se sinta representado, desistimulando-o a participar das votações.
“É possível que a soma dos brancos, nulos e as abstenções seja a vencedora das eleições, de fato. Isso já aconteceu nas eleições da cidade de São Paulo, que elegeram João Doria (PSDB). A descrença com a classe política ficou evidente desde as jornadas de junho de 2013. Até 2015, boa parte da população acusava o PT pela crise moral do país. A Operação Lava Jato gerou um desencantamento ainda maior, mostrando que a corrupção é uma coisa sistêmica, suprapartidária”, acredita.
Ele lembra que segundo a pesquisa CNT/MDA divulgada em maio, o índice de brancos, nulos e indecisos, juntos, chega a 45% do eleitorado, no cenário sem o ex-presidente Lula (PT).
Enquanto os discursos e debates eleitorais permanecerem polarizados, e sem discutir verdadeiramente o país, dificilmente o eleitor se sentirá estimulado a votar, o que pode representar uma ameaça ao processo democrático, destaca o professor do mestrado de Sociologia Política da UVV, Pablo Edgar Resende.
“Há a falta de confiança e de identificação com os políticos, e também com o sistema político, mas além disso existe uma apatia, um desinteresse que faz com que as pessoas não referendem nenhum nome. Se todos são iguais, e se suas propostas são as mesmas, ou não são nada factíveis, o eleitor vai preferir fazer qualquer coisa a ir para a urna. as pessoas não sentem que fazem parte das decisões do país e se mobilizam pouco”, analisa.
CONSEQUÊNCIAS
O fenômeno do não-voto, seja para registrar repúdio às opções apresentadas pelos partidos, ou por não enxergar na democracia um potencial para resolver os problemas do país, é algo a que os políticos e eleitores devem estar atentos, para que a população não se afaste ainda mais da política, na avaliação do cientista político Fernando Pignaton.
“Para os eleitores, mesmo que ficar em casa seja um protesto legítimo, a possibilidade de mudar a situação torna-se muito pequena, se ninguém fizer nada. Estamos vindo de uma sequência de dois presidentes rejeitados”.
Para ele, o excesso de candidaturas postas à presidência não deve se traduzir em uma maior presença nas urnas.
“Essa fragmentação pode aumentar a frustração da população. A discussão se torna superficial, extremada, não há referências, e o país precisa de caminhos concretos. Em democracias mais maduras, são duas, três ou quatro forças políticas se apresentando. Só com mais discussão o eleitor vai se envolver mais com as eleições”, afirma Pignaton.
Nenhum comentário:
Postar um comentário