A doméstica Francisca das Chagas da Silva foi encontrada pela reportagem do portal MOSSORÓ HOJE encostada numa cerca de vara e arame, à sombra de um pé de cajarana, afastada da casa de taipa, bem humilde, onde mora com o atual marido, o flanelinha Jean Carlos Felício da Cunha, e cinco filhos, na localidade de Rincão, na zona norte de Mossoró-RN. Havia um banquinho perto disponível, mas Dona Chaguinha demonstrava optar por ficar em pé, tomando chá trazido por uma amiga, observando, com um olhar profundo (olhos lagrimejando), os familiares, filhos, vizinhos, policiais e imprensa indo e vindo, fazendo comentários baixos. Muitos com semblantes assustados. Na mão, Dona Chaguinha segurava um Registro Geral.
Parecia já conhecer bem o protocolo de quem já teve algum parente assassinado ou preso, que é quando o documento com foto é o primeiro item que se tem que providenciar para levar a autoridade policial. E Dona Chaguinha de fato já conhecia bem este protocolo. Ela já o repetira por quatro vezes. E havia acabado de ter o filho George da Silva Queiroz, de 20 anos, que trabalha de carvoeiro, assassinado dentro de casa com tiro de doze na cabeça por dois homens se dizendo polícia. Os assassinos fugiram num Celta vermelho por uma estrada de barro. Dona Chaguinha contou ao MOSSORÓ HOJE que teve 11 filhos com o primeiro marido, de nome Jorge Queiroz, de quem diz que ficou com mágoa. O motivo foi que Jorge, bêbado, não teria ajudado a salvar o filho Gean da Silva Queiroz, de 6 anos, que estava se afogando num açude perto de casa. Teria dito: “Deixe morrer”. “Nunca vou esquecer isto”, diz. Com o segundo marido, Jean Carlos Felício da Cunha, ela disse que trabalha todos os dias (ela em casas de família, em Mossoró, e ele pastorando carros no estacionamento ao lado Cobal) para sustentar os filhos. Narraram ao MOSSORÓ HOJE quando aconteceu o ataque nesta sexta-feira, 31/08, por volta das 14h, estavam almoçando com os filhos. Jean Carlos Felício disse que quando percebeu aproximação dos assassinos, jogou a vasilha de comida e saiu correndo. "Voltei porque eu vivo com ela há sete anos, cheguei pensando, chorando, eu vivo com ela até hoje num é por causa que o filho dela morreu que vou abandonar ela não, voltei para casa para enfrentar a barra com dela", relatou.
Dona Francisca não correu, ficou dentro de casa onde estava. "Se eles quisessem matar todo mundo, tinham chegado atirando e não chegaram atirando, disseram polícia, polícia, todo mundo parado", disse. "Eu vi bem quando eles fizeram assim e viram que era George, aí George se levantou e correu, quando George correu, já estavam esperando na sala", relatou a mãe. O filho dela já havia sofrido uma tentativa de homicídio em julho de 2017. Sobreviveu mesmo após ser alvejado no pescoço e braço. Foi socorrido ao Hospital Regional Tarcísio Maia e sobreviveu. Não é a primeira vez que Dona Chaguinha vive o drama de ver o filho morto. Há cerca de dois anos, os criminosos levaram durante a madrugada um de seus filhos de dentro de casa. Mauro da Silva Queiroz, de 19 anos, na época, foi arrastado de casa para ser morto.
Na hora, como narra à mãe, ele pensou que os assassinos eram policiais. O coração de mãe dizia que não. "Eu vivo assustada desde a primeira que entraram aqui e tiraram o meu filho dos meus pés, ele saiu e disse assim, ele pensava que era a polícia, mãe leve meus documentos, aí o caba olhou para trás e disse num precisa de documento não", relatou Dona Chaguinha sobre o último momento que viu seu filho Mauro Queiroz. O corpo de Mauro foi achado dias depois numa estrada de barro perto da favela das Malvinas.
O segundo filho de Dona Chaguinha a ser assassinado foi João Lucas da Silva Queiroz, de 22 anos, na época. Ele foi morto a tiros em junho de 2016 no Loteamento Santa Helena, onde morava. O acusado do crime foi preso em fevereiro deste ano. O motivo seria porque o acusado Francisco Heliomar de Freitas se incomodou com fogos de artifícios soltados pela vítima. Depois de sepultar dois filhos, Dona Chaguinha teve que passar pelo mesmo sofrimento, desta vez bem mais doloroso.
O seu filho Gean da Silva Queiroz, de 6 anos, morreu afogado quando brincava em um açude nas imediações do Rincão, onde a família mora até hoje. "Era o mais novo, eu tinha ido renovar a matrícula dele, aí quando eu cheguei, só se via o movimento de povo, aí eu o que foi menino, aí as meninas disseram Tazinho foi tomar banho no açude e caiu num buraco", contou a mãe.
A matriarca da família conta que até hoje tem mágoa do ex-marido Jorge porque ele, na época, se recusou a tentar salvar o filho. "Jorge estava em casa, tava bêbado, se ele tivesse corrido, tinha salvado ele, sabe o que ele disse, deixe ele morrer lá, quando morrer vai tirar, essa mágoa eu morro e nunca se acaba", revelou.
Visivelmente abalada, Dona Chaguinha chora e revela o drama de conviver com a dor de perder 4 filhos de forma tão cruel e num intervalo de tempo inferior a 3 anos. "Eu pra mim não tenho nem mais coração, tenho mais não, perder três filhos assim, às vezes o povo vê eu achando graça, prosando, mas só Deus sabe, a família todinha sofre, mas quem sofre mais é a mãe, só quem sabe é eu, mal cura uma ferida chega outra", revelou.
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