A pergunta sobre a motivação de Oliveira foi feita pela própria defesa.
Em audiência de custódia realizada na sexta-feira (7), um dia após ter esfaqueado o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), Adelio Bispo de Oliveira, 40, afirmou que sua motivação teve viés político e religioso.
"Eu como milhões de pessoas, pelo discurso da pessoa referida [Bolsonaro], me sinto ameaçado literalmente. Me sinto ameaçado como tantos milhões de pessoas pelos discursos que o cidadão [Bolsonaro] tem feito. Aquela certeza de que, cedo ou tarde, [ele] vai cumprir aquilo que está prometendo tão veementemente pelo país todo contra pessoas como eu exatamente", disse Oliveira.
A pergunta sobre a motivação de Oliveira foi feita pela própria defesa, segundo vídeo da audiência divulgado pela revista Crusoé nesta segunda (10). No início da oitiva, a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho, da 2ª Vara da Justiça Federal de Juiz de Fora, explica que o objetivo não é falar do crime em si, mas das circunstâncias da prisão.
A defesa, porém, insiste na pergunta, já que a motivação poderia determinar se o caso permaneceria na esfera da Justiça Federal ou não. Durante a audiência, Oliveira se mostra calmo, mas é impreciso em algumas respostas.
"Um incidente, um imprevisto, que terminou, digamos assim, de forma problemática. Discordâncias em certos pontos... Não saberia me expressar, mas o fato ocorreu. Houve um ferimento. Embora pretendíamos pelo menos dar uma resposta, um susto, alguma coisa dessa natureza e aconteceu", disse.
Os advogados perguntaram ainda se Oliveira usava algum tipo de remédio controlado. Ele respondeu já ter feito uso de três, mas que atualmente não toma nenhum. "Tem um bom tempo que não vou ao médico."
Respondendo à juíza sobre sua prisão, Oliveira disse ter sido espancado por militantes mesmo quando já estava no chão imobilizado pela polícia. Ele reclama de dores nas costelas que o impedem de falar mais alto.
"Fui preso depois de um certo incidente, houve um tumulto, uma confusão muito grande, fui espancado", disse. Oliveira afirmou ter sido levado para um comércio, que a polícia determinou que fosse aberto para recolhê-lo da confusão. Ali, diz, foi interrogado e, depois, foi levado num carro de polícia até a delegacia da Polícia Federal de Juiz de Fora.
Oliveira afirmou ainda que houve policiais que o ameaçaram e tiveram tom autoritário. Ele conta ter levado um soco antes de entrar na viatura. O agressor disse que não fez contato com a família, embora um policial estivesse disposto a ajudá-lo nisso. "Até porque eu não tinha o número de cor, tinha na agenda do celular, que tinha sido levado."
Segundo o relato de Oliveira, por volta das 3h, ele foi levado para o Ceresp, um presídio de Juiz de Fora, onde foi intimidado por alguém que descreveu como "líder" do local e por agentes penitenciários.
Oliveira disse ter sido chamado de "bicha", "viado", e que seria colocado na cela para "ser estuprado por um negão". Também relatou ter sido colocado contra a parede e sofrido pisões nos pés descalços. "Disse que eu tinha tentado matar os sonhos dele, o presidente dele", contou.
Embora a cela fosse projetada para dois detentos, ele era o sétimo dentro do espaço. Oliveira afirmou que os companheiros de cela o trataram bem: "Dentro da cela, o pessoal era muito humano, todo mundo no mesmo barco, todo mundo cometeu um delito, um erro, todo mundo se respeita." Com informações da Folhapress.
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