11 abril 2018

Após Chico Pinheiro defender Lula, Globo pede 'isenção' a jornalistas

E-mail enviado pelo diretor de jornalismo da emissora faz referência ao vazamento dos áudios de Chico Pinheiro



Um áudio que está circulando nas redes sociais foi atribuído ao jornalista da Globo Chico Pinheiro. Nele, o profissional critica o juiz Sergio Moro, responsável pelo pedido de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Após a repercussão do caso, o e-mail de Ali Kamel faz referência ao vazamento dos áudios. Ele enviou um e-mail aos jornalistas da emissora alertando sobre o uso de redes sociais. Segundo revela o Notícias da TV, Ali Kamel pede que os profissionais do departamento não expressem publicamente preferências políticas e partidárias, porque isso causa "dano" à emissora.

No entanto, mesmo que o texto do diretor não cite o fato que envolve Chico Pinheiro, a publicação destaca que o e-mail de Ali Kamel faz referência ao vazamento dos áudios.

"Não se pode expressar essas preferências [políticas e partidárias] publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos", escreveu Kamel. Segundo ele, "uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento".

Veja a íntegra do e-mail de Ali Kamel distribuído na segunda-feira (9):

"Em e-mail no ano passado, eu alertei para o uso de redes sociais. Na ocasião, lembrei que jornalistas, de forma não proposital, publicavam fotos em que marcas apareciam. Eu alertei então para aquilo que todos nós sabemos: jornalistas não fazem publicidade e que todo cuidado é pouco para evitar que nossos espectadores equivocadamente pensem que se descumpre esse preceito.

Hoje, volto a falar sobre o uso de redes sociais. O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos.

Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento.

Como entrevistar candidatos, se preferências são reveladas, às vezes de forma apaixonada? O mais grave é que, quando os vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito.

A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais (e nos dos jornais sérios de todo o mundo):

'A participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta três pressupostos:

(…) 3- os jornalistas são em grande medida responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com isenção e correção.'

É com isso em mente que envio esse e-mail.

Ali"

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