08 maio 2013

Polícia investiga pelo menos 20 estupros em igreja evangélica no RJ


Foto divulgação
Marcos Pereira (esq.) com o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, durante culto na igreja Foto: DivulgaçãoA polícia investiga pelo menos 20 estupros ocorridos dentro da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias, do pastor Marcos Pereira, preso na noite da última terça-feira, pela acusação de abuso sexual de duas fiéis no Rio de Janeiro. Segundo o delegado Marcio Mendonça, titular da Delegacia Especial de Combate às Drogas (DCOD), há provas da ocorrência de seis estupros, e vários crimes semelhantes podem ter ocorrido, inclusive contra crianças e adolescentes.

Os estupros aconteciam, principalmente, na sede da igreja, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Há também relatos de orgias e abusos sexuais tanto na igreja, quanto no apartamento apontado pela polícia como residência do pastor, situado na avenida Atlântica, em Copacabana, um dos endereços mais nobres do Rio. Segundo a investigação, o imóvel está avaliado em R$ 8 milhões.

O delegado ressaltou que Pereira tinha um grande poder de convencimento, e que muitas fiéis eram iludidas pelo discurso do pastor. Baseado nisso, ele se aproveitava sexualmente das pessoas, segundo a polícia. Em alguns momentos, no entanto, o pastor utilizava a violência para conseguir o que queria, apontou Mendonça. 

As investigações indicam que os crimes ocorriam desde 1998. Pereira dizia às fiéis que elas estavam possuídas pelo demônio, e precisavam fazer sexo para se “purificar”, apontam os depoimentos colhidos.

“Ele lidava com pessoas muito pobres, que necessitavam de ajuda espiritual. Ele se aproveitava disso. Em princípio, pelo convencimento. Em último caso, ele usava a força”, declarou o delegado.

O pastor Marcos Pereira está sendo investigado ainda pelos crimes de homicídio, associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Mendonça pontuou que há indícios de que Pereira recebia dinheiro da facção criminosa Comando Vermelho (CV) e comprava imóveis e veículos, além de abrir empresas. Ainda de acordo com o delegado, há relatos de que bandidos e armas eram escondidos na sede da igreja liderada pelo pastor.

“Ele é uma pessoa perigosa. As pessoas que pensavam em denunciá-lo tinham medo. Tudo indica que ele tinha uma relação bem estreita com o tráfico de drogas”, disse Mendonça, salientando que Pereira chegou a visitar, em duas ocasiões, o traficante Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, ex-chefe do tráfico no Complexo do Alemão, dentro de um presídio federal.

A investigação também verifica a participação de Pereira em quatro assassinatos. Um deles seria de uma fiel que teria sofrido tentativa de violência sexual do pastor e decidiu apurar o que acontecia na igreja. Ela teria descoberto orgias dentro do templo e no apartamento de Pereira, nas quais haveria também relações homossexuais. Ela foi morta em 2006, e um sobrinho de Pereira foi condenado pelo crime.

A polícia tem relatos de uma jovem que foi abusada durante oito anos dentro da igreja. Segundo as investigações, ela era estuprada desde os 14 anos e forçada a participar das orgias. A ex-mulher de Pereira, Ana Madureira, também acusa o pastor de estupro.


As investigações começaram há pouco mais de um ano, após denúncias feitas pelo líder da ONG Afroreggae, José Junior, de que Pereira tinha ligações com o tráfico de drogas. Na época, Junior e Pereira travaram um intenso bate-boca pela mídia, com trocas de acusações.


Pereira ganhou notoriedade por evangelizar traficantes, mediar rebeliões em presídios e conseguir livrar pessoas condenadas à morte pelo tráfico dentro de comunidades. Segundo o delegado Marcio Mendonça, tudo isso não passava de encenação combinada com os bandidos. O objetivo era dar visibilidade ao pastor na mídia, e convencer o público de que criminosos eram regenerados por ele.


O pastor foi encaminhado para o Complexo Penitenciário de Bangui, onde ficará em cela comum. Ele teve prisão preventiva decretada pelo juízes Ricardo Fairclough e Ana Helena Mota Lima, da Vara Criminal de São João de Meriti. Ao deixar a delegacia de São João de Meriti, diversos fiéis se aglomeraram em frente ao distrito policiail para apoiar Pereira.




Terra

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